Friday, March 02, 2007

Bali ou Okinawa?


By Raquel

Estava na dúvida se viajava para Bali ou Okinawa. Desde que cheguei ao Japão que eu falo em ir para a ilha paradisíaca no sul do país, de mar azul turquesa e clima quase tropical. Mas por incrível que pareça, dar um pulo em Bali — a ilha paradisíaca na Indonésia — é mais barato. No final das contas, o preço do pacote decidiu a parada.

Fomos para Bali, mas foi como se tivéssemos chegado em Okinawa tamanha a quantidade de turistas japoneses que encontramos por lá. Os japoneses vão tanto pra Bali que logo no aeroporto de Denpasar (a capital) tem um monte de folheto turístico em japonês.

Você pode pagar a taxa do visto (dado na chegada) em ienes e o funcionário que recebe a taxa fala japonês. E não é só ele, não. No nosso hotel, os funcionários falavam inglês super mal, mas eram feras em japonês. Fácil de entender: tirando a gente e outros dois homens com cara de ocidental, todos os outros hóspedes eram japoneses.

Passava com o Emerson na porta das lojas e os vendedores cumprimentavam com um konnichuwa (olá)! E falavam os preços dos produtos em japonês também. Engraçado era que na maior parte das vezes o Emerson não dava confiança e os caras partiam para o plano B: apertavam a tecla sap e vinham com um nihau (olá em chinês!)

Além da quantidade de japoneses, Bali tem outra coisa em comum com o Japão. Lá o sol também dá show. Mas enquanto no Japão é o sol nascente que encanta (ainda mais visto lá do alto do Monte Fuji), em Bali o sol poente é que deixa a gente de boca aberta.

Foto 1: Eu e duas turistas japonesas pouco antes de sairmos para o mar. Elas para mergulhar e nós para fazer snorkel.

Foto 2: Pôr-do-sol visto do templo Palu Watur, no sul de Bali

Saturday, February 10, 2007

Tou vivo da Silva

Como podem ver voltei vivo mas demorou 4 horas para passar o veneno. O veneno dá pra sentir como um formigamento na ponta da língua. É demais! Tem de pedir pro chef pra aumentar a dose. Sem contar que a ansiedade de marinheiro de primeira viagem aumenta mais a emoção. Só de pensar que o cozinheiro poderia ter se esquecido de tirar o veneninho é fantástico. Infelizmente, o veneno não conseguiu se manifestar diante da imponência do meu fiel exército de glóbulos brancos. Mas passei no teste. Muito bom.

Mudando de assunto, estou vivendo dias intensos. Terminei a tese e o mestrado está chegando ao fim, assim como minha missão no Japão.
Semana que vem, viajarei a um lugar bem parecido com o paraíso e só volto na outra semana. Alguém poderia vigiar o blog nestes dias? Vou deixar algumas luzes acesas para acharem que tem gente. Abraços.

Friday, February 09, 2007

Hoje vou comer fugu

Gaijin que é gaijin tem de comer fugu, já dizia meu avô que era dono de restaurantes. O fugu é um tipo de peixe temido por ser venenoso. Mesmo assim, por tentativa e erro, vieram a descobriram como tirar o veneno e o peixe virou um prato japonês exótico.

Hoje às 7:30 da noite vou me encontrar com uns amigos japoneses que me indicarão um restaurante de fugu. Diz a sabedoria popular que há restaurantes caros e baratos de fugu. Nos mais baratos você corre o risco de morrer. Os mais caros chegam a cobrar o prato a 12000 ienes (200 reais). Ou seja, você tem duas escolhas: ou morre ou fica pobre. Para ficar mais emocionante, não perguntei se o restaurante onde irei é caro ou barato.

Nas minhas andanças, encontrei um livro de aprender japonês com um título sugestivo: "13 secrets for speaking fluent japanese." Numa aula sobre condicionais (se... então...), há uma história em quadrinhos sobre um gaijin americano que se me meteu a ir num restaurante de fugu. O título do livro é segredos para falar japonês fluentemente, mas não diz se vivo ou morto! Vou narrar a história abaixo e deixar os quadrinhos originais no fim. Boa leitura e boa sorte para mim. Até o próximo post "se" eu estiver aqui.

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Se...
As aventuras de um gaijin em Tokyo

(Naoko, japonesa, pensando): Se ele ainda estivesse comigo, como eu seria feliz... Se eu não tivesse trabalhado até tarde no escritório naquele dia, então ele não teria ido sair para passear... Se ele não tivesse ido passear, então ele não teria encontrado aquele homem... Se ele não tivesse encontrado aquele homem, ele não teria ido àquele restaurante... E se ele não tivesse ido ao restaurante, então... (Mostra Naoko ajoelhada em frente a uma cova no cemitério).

Naoko suspira e pela milésima vez retraça a série de eventos que trouxeram Jim a Tokyo. (Mostra o americano Jim na sala de aula numa universidade americana) O professor fala: Se você não estudar no Japão, você nunca aprenderá o japonês de verdade. No fim da aula, Jim conversa com o professor. (Jim): Se eu for para o Japão, onde seria interessante viver? (Professor): Se você for para uma cidade grande, haverá um monte de salaryman e office ladies. Se você for a Kyoto, verá um monte de templos. (Jim imagina as duas situações com os olhos de sua mente) Mas Jim tinha uma visão de mundo extremamente profunda. Jim finalmente se decide: Se é velho, é chato.

Então uma semana depois, Jim vem a Tokyo e aluga um pequeno apartamento barato. Jim resmunga: se o apartamento não fosse tão minúsculo... Se apenas não houvesse baratas... (duas baratas na cozinha fazendo kassa kassa, o som das baratas). Fora da frigideira para o fogo, Jim pega um trem cheio. Se o trem não fosse tão lotado, eu até poderia gostar daqui. (Volta Naoko narrando): Foi nesse momento único que nós nos encontramos. Foi amor à primeira vista... (Dentro do trem, Jim propõe a Naoko!) Se você estiver livre, não quer dar uma volta comigo no parque? (Jim e Naoko no banquinho do parque) E o nosso amor floresceu entre as folhas vermelhas de outono. (Num futuro indefinido) Jim se declara: Se você não tiver namorado, seja a minha! Nós estávamos tão apaixonados, era tanto amor. (Mostra muitas memórias dos dois juntos fazem windowshopping, brincando com fogos de artifício etc)

(Naoko) Mas eu não podia parar de trabalhar. Normalmente eu trabalhava até tarde, e naquele dia eu iria para casa do Jim às 6:30 da tarde, mas eu não conseguia terminar o trabalho. Jim se cansou de esperar - ele sempre dizia que eu era explorada pela compania- então ele saiu para dar uma volta. Foi aí que apareceu um japonês de um carro: "Se ele for americano, eu posso treinar o meu inglês!". Então esse japonês que Jim nunca tinha visto o convida para sair. "Se você tiver tempo, não gostaria de ir comer e jogar uma conversa fora?" Jim retruca: Se for caro, não posso ir. "Não se preocupe, eu pago!" Então os dois entram num restaurante de... fugu.

(Jim) Se é barato, fugu é perigoso. (O homem estranho fala com muita certeza apontando para o menu) Mas se é caro, é seguro! (Os dois comem e se divertem) Quase no fim da festa, o homem estranho fala olhando para o prato de Jim: "Se você não comer tudo, é considerado falta de educação, você sabe..." Mas Jim já estava pra lá de Marrakesh. Estava muito estranho.

(Naoko) Eu voltei super tarde, lá pelas 11 da noite. Se ele estiver esperando desde das 6:30, deve estar uma arara comigo. Mas havia um bilhete na porta. "7:30pm. Fui jantar no Shishi Fugu. Volto tarde." Eu conhecia aquele lugar... Ele era famoso...

... famoso pelo fato dos cozinheiros não saberem como retirar o veneno do fugu corretamente, famoso por...

(Naoko) Se ele foi para o notório Restaurante Shishi, ele está em perigo! (*Nota minha: shi em japonês também significa morte, então shishi é morte em dobro!).

(De volta ao restaurante) Jim estava suando frio, tremendo e super mal.

Naoko corre até o restaurante. Mas é tarde demais. Jim suspira suas últimas palavras no colo de Naoko: "Eu devia ter ido pro McDonalds..."

(Já no hospital, Naoko ajoelhada no leito) Se você não tivesse comido fugu, eu não estaria tão sozinha agora! Se você não tivesse vindo para o Japão... Se você não tivesse vindo para o Japão... (as palavras retumbam na mente de Naoko) ... eu nunca teria te encontrado. A verdade é que Naoko ainda pronunciava essas palavras.

"Se você não der sedativos para ela, ela nunca se acalmará" - um médico fala ao outro no sanatório, ambos vendo Naoko pela janelinha do quarto. "Se você..." "Se você..." "Se você..." (Naoko sentada abraçando os joelhos no quarto escuro). FIM

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Thursday, February 08, 2007

Akihabóbora

Os dois lugares que mais freqüento devem ser Shibuya e Akihabara. Sobre Shibuya já houve um post sobre as bizarras banbazoku e dois vídeos (1, 2) dentro de um ônibus público japonês, para quem não mora no Japão.

Falar do bairro de Akihabara normalmente remete aos eletrônicos. Foi nas lojas de lá que o Walkman foi lançado. Neste post queria mostrar o que os vendedores são capazes de fazer para atrair a atenção dos transeuntes.

O vendedor é um figuraço. Ele tem um capacete de abóbora na cabeça e calça um cuecão cinza. Reparei que ele também tem uma faixa cinza de karate amarrada na cintura. (Deve ser do karate de Okinawa) Em cada perna na altura da coxa ele tem uma faixa de elástico presa. Para quê não sei. Como se não bastasse ele também usa de recursos sonoros. Na mão ele tem um microfone para soltar o verbo. O figurão usa uma barba postiça preta, talvez para não ser reconhecido pelo filho. É a própria versão japonesa da melancia no pescoço.

Tuesday, January 23, 2007

Tokyo Passion na Malásia

O Tokyo Passion já está conquistando outros países da Ásia!!! É o projeto de expansão global do Andrômeda World em ação.

Tem uma menina muito doidinha que viu meu blog e pediu permissão para usar uma foto no blog dela. A menina é lá de Kuala Lumpur e fez uma versão do post do Darth Pink: O lado rosa da força. Dê uma olhada aqui no blog da guria.

Monday, January 22, 2007

Pedi uma pizza

By Raquel

O Emerson terminou de escrever a tese dele e, claro, falei que tínhamos de comemorar. Ele, como bom paulistano que é, disse que queria comer uma pizza.

Pizza aqui pra gente é um luxo. Custa tão caro quanto um combinado de sushi e sashimi (aquele barquinho) em restaurante japonês no Brasil.

Por causa do preço, a gente só comeu pizza boa aqui duas vezes. Outro motivo é que nunca tivemos coragem de pedir uma redonda em japonês por telefone. Então íamos pessoalmente lá na pizzaria -- que fica longe pacas -- fazíamos o pedido e ficávamos esperando. Não é o tipo da coisa que a gente está a fim de fazer sempre, ainda mais com o frio que está fazendo.

Mas hoje, como o dia é especial, resolvi que ia pedir a pizza por telefone! E no melhor japonês que eu conseguisse. Ensaiei bem, li mil vezes o nome da pizza no folheto do Domino"s e liguei:

- Domino"s Pizza, boa noite!
- Desculpe, eu sou estrangeira, então por favor fale devagar...
- (provavelmente pensando: tinha que ser comigo?) Entendi.
- (confiante) Gostaria de fazer um pedido!
- Sim. Qual o seu telefone?
- (olhando para o número que eu tinha escrito pra não errar) 090 xxxx-xxxx.
- Certo. E o endereço?
- (mais confiante ainda) Kodaira-shi, Gakuen Nishi Machi x-x-x. Não, X, não! Y-x-x!
- Certo. O nome do prédio?
- Aban Haimu.
- Número do apartamento?
-000.
- Qual o nome da senhora?
-Rakeru.
- Desculpe, poderia repetir por favor?
- (pensando em falar: é igual ao nome do restaurante...) Ra-ke-ru.
- (confirmando) Senhora Rakeru, né?
- Sim.
- Qual o pedido?
- (respiro fundo) Kuatoro Djaianto (quatro gigante), tamanho grande! (tinha gigante tamanho pequeno também...)
- Certo, Kuatoro Djaianto, tamanho grande. Nani nani nani nani, nani nani ?
- ?????? (pânico! Tava indo tão bem...Respira, respira...) Desculpe, não entendi, poderia repetir?
- (pacientemente) Nani nani nani nani, nani nani ?
- (tentando advinhar) Isso é molho?
- (ainda pacientemente) Nani nani nani nani, nani nani...
- (chutando o balde) Ah, pode ser qualquer um!
- (ainda pacientemente...) Nani nani crocante nani nani...
- (me agarrando a única palavra que entendi) Crocante! Crocante! (ufa...)
- Certo (provavelmente aliviado). Mais alguma coisa?
- (torcendo pra ele não perguntar mais nada) Só isso...
- A conta deu 3.150 ienes (31 dólares). Vai levar meia hora.
- Ok.
- Obrigado pelo pedido.

Monday, January 15, 2007

Por motivo de força maior

Eu falei que ia falar sobre o ano novo dos japs, as fotos ja estão prontas, o texto na cabeça, mas por motivo de força maior não está dando. Não tem clima. Estou terminando a minha tese de mestrado e isso está ocupando todos os megabytes da minha memória. Então, logo logo volto a postar!

Monday, January 01, 2007

Nosso Ano Novo no Japão

Este ano fomos para a Torre de Tokyo, em Shiba Park (Shiba Kouen) em Minato-ku, para celebrar a chegada do ano novo.

A Torre de Tokyo é inspirada na Torre Eiffel. Eu nem sabia que tinha torre de Tokyo quando cheguei no Japão. Descobri por acaso onde ficava quando procurava o local da alfaiataria que meu pai tinha aqui, no bairro de Roppongi, antes da construção da torre em 1956. Hoje há um McDonalds no lugar. (Eu tenho a foto, não da alfaiataria, mas a do McDonalds.) Não posso dizer que a torre de Tokyo é uma cópia pois não lembra em nada a atmosfera da torre de Paris. Parece que os japoneses da época queriam dizer que "se os franceses têm, a gente também pode." Ela foi construída para ser suportar as antenas de TV de Tokyo. Para variar, dentro há vários museus (inclusive o Museu do Guinnes Book) e também restaurantes. Deveras curioso. Para quem nunca foi, há uma webcam ao vivo do topo da torre, neste site (tem de apertar um botão onde está escrito English).

Um luminário no prédio da torre nos felicitava Kinga Shin'nen (Feliz Ano Novo).

Voltando ao assunto, lá no local havia uma certa multidão, talvez 1000 pessoas, e estava tudo muito civilizado. O ambiente não indicava que haveria algum evento especial tal como uma "super queima de fogos de Copacabana". Um funcionário da torre dizia constantemente no megafone: "Podem ficar o tempo que quiserem mas não vai ter nada aqui." Apesar disso, um indiano muito maluco perto de nós começou a soltar berros a alguns minutos do ano novo e agitou o local. O que não faz alguns berros histéricos. Muita gente apareceu do nada e, com uma boiada, começaram a correr para o local onde nós estávamos. Deve ter passado de mais de 2000 ou 3000 pessoas. Ou mais.

De repente, ouço um "10, 9, 8...", provavelmente um cara inteligente estava sincronizado com o relógio do celular, pois não havia telão com contagem regressiva. E no êxtase, no primeiro segundo do ano novo, se iluminou um singular "2007" bem no centro da torre. Não houve estouro de fogos de artifício, como esperado. O que houve foi estouro do nosso champagne francês, afinal estávamos na frente da torre.

As fotos são da Raquel, que insistentemente tentava tirar "a" foto para a capa da Time. E conseguiu (tirar a foto, não publicar na Time). Não teríamos ido lá se não estivessem os amigos da Raquel, Gisele e seu marido Paul, que moram perto de lá.

Foi divertido de qualquer maneira. Certamente não é essa a maneira tradicional de os japoneses celebrarem a passagem do ano novo, senão haveria uma grande festa com fogos e trio-elétrico, com direito a aparecer no Jornal Nacional. Japonês que é japonês celebra a passagem de outra maneira, e uma vez eu fui conferir. Mas fica para um próximo post.

Monday, December 25, 2006

Feliz Natal


Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos os meus amigos e amigos blogueiros que fiz ao longo do caminho!!!

Aproveito para fazer minhas as palavras de um email recém enviado por uma amiga chinesa. Leiam e inspirem-se com a milenar sabedoria.

Infelizmente chinês também é grego para mim!
Boas Festas e até breve!

Thursday, December 14, 2006

Darth Pink: o lado ROSA da Força

Voltei!
Foi muito legal ter a Raquel no Tokyo Passion! Me ajudou um bocado nesse meio-tempo com seus super ultra textos. Não só isso, trouxe novos leitores pro blog! Por isso e outros motivos, ela virou sócia do clube e tem cadeira cativa no Tokyo Passion Club.
Agora mãos à obra.
Abraços,
Emerson Wan
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Esse post é curtinho só para esquentar...

Essa foto provavelmente não é japonesa mas tem sua razão de estar no Tokyo Passion. Meu vilão preferido e o de milhões de fãs pelo mundo finalmente sucumbiu ao lado PINK da Força.

De fato, achei interessante deixar registrado que a Força da japonesinha Hello Kitty foi maior que a do Lord Negro do Mal.


Curtiram?

Wednesday, December 06, 2006

O clone

By Raquel
Parece o Grêmio, mas não é. Essa camisa aí, idêntica ao do tricolor gaúcho é do Kawasaki Frontale, time da J-League, a liga profissional do futebol japonês. O time está em segundo lugar no campeonato e tem três brasileiros: Marcão, Juninho e Magnum.

Na primeira vez em que vi a camisa, exposta numa vitrine de um humilde ginásio de esportes, me perguntei o que uma camisa do Grêmio estaria fazendo ali. Fiquei chocada quando vi que era um clone. Até o escudo é igualzinho!

Não sei se é homenagem, se o Grêmio deu permissão ou se foi cópia descarada mesmo.

Ia ser curioso se algum dia um jogador gremista viesse para o Kawasaki Frontale. Nem ia parecer que trocou de time! E seria engraçado se um dia o Inter jogasse com o "rival" japonês.

E agora me despeço da função de blogueira interina. O titular do blog volta no próximo post e eu vou pro banco de reservas. Mas prometo voltar como blogueira contribuinte. Foi um prazer!

Thursday, November 30, 2006

Ichi, ni, san, catorce!

By Raquel
Primeiro mundo é outra coisa. Perdi a conta das vezes em que disse essa frase aqui no Japão. Mas nunca falei com tanto entusiasmo como no início deste ano quando comprei meu ingresso para o show do U2. Foi no primeiro dia de venda, pela internet, sem filas, sem chateação. Não pude deixar de lembrar dos fãs brasileiros que passaram a noite em fila e ainda ficaram de mãos abanando.


Comprar ingresso pra qualquer coisa aqui no Japão é moleza. Quem está muito afoito, como eu estava, pode comprar pela internet num período de pré-venda. Depois começam as vendas nas lojas de conveniência (tem uma em cada esquina). É só ir numa máquina dentro da loja e pronto. Claro que está tudo em japonês, mas garanto que é mais fácil do que comprar no Pão de Açúcar.

E olha que teve um imprevisto que me deixou de coração na mão. O show, que era pra ter sido em abril, foi adiado. Devolvi o ingresso comprado, pelo correio, e recebi um novo, pelo correio também, quando o show foi remarcado.

Então, ontem, depois de 15 anos de espera - perdi o show no Brasil em 1998 - lá estava eu num Saitama Super Arena lotado. Tinha duas preocupações antes de chegar ao estádio, construído especialmente para a Copa de 2002:

1-Será que o lugar é bom? Comprei o ingresso às cegas sem idéia da distância em que estaria do palco.

2-Será que os japoneses vão me obrigar a assistir ao show sentada? É que tinha ouvido falar que show aqui no Japão é assim, com platéia sentada e bem-comportada.

Felizmente me dei bem duas vezes. O lugar não era o melhor, mas era bom e a platéia ficou o tempo todo de pé, dançando, balançando os braços, cantando e gritando.


Vamos ao show.

O Bono entrou no palco agitando uma bandeira do Japão. Os primeiros acordes de City of Blinding Lights tocavam e ele fez uma reverência à cidade: "Tokyo, the city of blinding lights!"

Na música seguinte, Vertigo, uma surpresa: ele começou contando em japonês. "Ichi, ni, san, catorce!" Daí vieram Elevation, Beautiful Day, I Will Follow, Bad até chegar a inevitável Sunday Bloody Sunday.

Começava a fase "culto" do show.

É neste ponto que Bono faz seus discursos contra a pobreza e a intolerância, cita Abraão, Maomé e Jesus Cristo e o "Coexista" aparece no telão (em inglês e em japonês). Daí veio Miss Sarajevo (o Bono cantou inclusive os trechos em italiano que era a parte do Pavarotti. E até fez voz de tenor!). Pride encerrou a melhor missa que assisti na vida!

Na última parte Where The Streets Have no Name (que vai me emocionar sempre, sempre), One, The Fly, Mysterious Ways e With or Without You, a música que ele canta cortejando uma menina da platéia.

Depois de um falso "sayonara", teve o bizz com The Saints are Coming, Angel of Harlem e One Tree Hill. Daí foi "sayonara" mesmo - e muitos "God, bless you!"

Estou em transe até agora.

O que rolou

Fotos: Tiradas pela minha companheira de show, e muito querida, Cris Yamamoto.

Friday, November 24, 2006

Outono colorido

By Raquel
Sempre que convido algum amigo pra vir ao Japão recomendo: venha em abril, começo da primavera e época da floração das cerejeiras, ou em novembro, quando as folhas das árvores ficam coloridas e deixam na paisagem uma mistura de verde desbotado, amarelho vibrante e vermelho berrante.

Para aproveitar os dias livres das minhas férias, isso explica porque eu também andei sumida do blog, fui com o Emerson fotografar a boniteza do outono japonês.

Estão aí duas fotos que tiramos no parque Rikugien, que fica na "zona norte" da Linha Yamanote da JR, em Tokyo.

O fenômeno da mudança de cores das árvores é chamado de koyo (pronuncia-se koiô) aqui no Japão.

Rivaliza em beleza com as cerejeiras floridas na primavera.

Saturday, November 11, 2006

Time de veados

By Raquel
Outro dia meu amigo Caruso, que é fera em japonês, me enviou esta propaganda da ANA, uma companhia aérea japonesa. Eles anunciam novidades na rota Tokyo-Chicago.

Ele explicou que essa bizarrice toda aí é por causa de um trocadilho. É que em japonês shika é veado, o bicho. Go é cinco. Chicago em japonês então soa como "Cinco Veados". Como a cidade também é a terra do Chicago Bulls, inventaram de fazer a brincadeira com um time de basquete.

Não é preciso entender japonês para achar a propaganda engraçada e muito bem feita. Mas certamente nenhuma agência de publicidade no Brasil ia ter uma idéia dessa.

Sunday, November 05, 2006

Pé na tábua

By RaquelJá falei do jeito kawaii (bonitinho) de ser dos japoneses. Aqui a gente se depara com coisas mimosas nos lugares mais inesperados.

O blog Meu Japão até mostrou um escapamento de carro com a cara da Hello Kitty.

E outro dia eu me deparei com essa super moto aí parada no estacionamento do prédio e fiquei supresa ao ver o acelerador.


Quem poderia imaginar que uma máquina dessa fosse ter esse pezinho!?

O dono é "radical", mas sem perder a ternura.

Sunday, October 29, 2006

Restaurante Raquel

By Raquel
Já estava acostumada à pronúncia inglesa do meu nome (algo como ruakel, com um R de língua bem enrolada) e achava charmosa a pronúncia francesa (rachel, com o som do R igual ao de amora e o L bem lá no alto do céu da boca).

Mas confesso que achei a coisa mais esquisita do mundo quando a minha sogra, que é japonesa, me contou que aqui no Japão eu ia ser Rakeru. Ou seja, praticamente teria um novo nome!

Pensei que a cada vez que eu me apresentasse ia ter de repetir o nome trocentas vezes porque os japoneses não iam entender. Por isso fiquei surpresa ao perceber que quase todo mundo aqui não só entende como também não acha Rakeru nem um pouquinho estranho.

Um dia, batendo perna por Tokyo descobri o motivo ao dar de cara com um restaurante chamado Rakeru. E não é só um. Trata-se de uma rede grande com lojas em várias cidades do país. A especialidade deles é omuraisu (abreviatura de omelet rice), um omelete recheado de arroz.

Ainda não sei por que o dono batizou seus restaurantes com esse nome, mas agora sempre que um japonês não entende quando me apresento, eu falo: É igual ao nome do restaurante!

Wednesday, October 25, 2006

Tô gripada

By Raquel
Ando meio sumida porque peguei gripe e, com vírus, não há inspiração que resista. Duro é ter de pegar trem gripada. Eu me recuso a usar máscara, um costume que os japoneses têm para não passar gripe para os outros.

Pra mim, máscara é coisa de doente, de gente que acabou de passar por uma cirurgia e saiu do hospital. Então, no trem eu fico lá tossindo e fungando com meu lencinho de papel a postos.

Ninguém nunca me chamou a atenção por eu não me preocupar com as pessoas à minha volta, mas hoje uma mulher que estava do meu lado virou as costas pra mim com medo de pegar gripe. Fiquei meio sem graça, mas me recuso a usar máscara.

Como não tem blogueiro interino para a blogueira interina, o blog vai ficar sem post novo por mais uns dias.

Wednesday, October 18, 2006

Pooh-san ou Donarudo?

By Raquel
O Emerson sempre fala: no Japão tudo é bonitinho. Pois é mesmo. E sabe qual é o cúmulo do bonitinho? Colocar personagens da Disney no cartão de banco e na caderneta de saldo.

No hora de abrir minha conta bancária levei um susto quando a mocinha perguntou já quase no final do processo:

-Pooh-san ka, Donarudo ka? (Ursinho Pooh ou Pato Donald?)
- ?????

Daí meu colega Caruso, que estava de intérprete, me explicou que a moça queria saber com qual personagem eu ia decorar a minha caderneta e o meu cartão. Pode?

Agora eu já incorporei esse jeito kawaii (bonitinho) de ser. Outro dia fui fazer uma chave nova e não hesitei em escolher um modelo decorado.

Friday, October 13, 2006

Dia do Tom

By Raquel
Eu já sabia que ele era venerado no Japão. Mais adorado até do que o David Beckham, que é uma figura onipresente nas propagandas deste país. Mas eu não imaginava que o amor dos japoneses pelo Tom Cruise fosse tão grande a ponto de eles criarem o Dia do Tom (Tomu no Hi)!

Pois a notícia saiu hoje em sites do mundo todo. A Associação Japonesa de Calendários não explicou o porquê da data, mas estabeleceu que, de agora em diante, todo 6 de outubro vai ser o Dia do Tom.

Pra falar a verdade, essa homenagem nem parece muito estranha depois que você descobre algumas datas bem curiosas do calendário japonês:

23 de janeiro - Dia dos Lactobacilos (Aposto que foi lobby da Yakult!)

8 de fevereiro - Dia da Agulha

15 de março - Dia do Sapato

8 de abril - Dia do Pneu (isso é coisa da Bridgestone)

27 de abril - Dia da Esposa Malvada (quem será o infeliz que inventou essa?)

2 de maio - Dia do Chá verde

11 de junho - Dia do Guarda-chuva

24 de junho - Dia do OVNI (alô, alô, Marciano...)

17 de julho - Dia do Mar (é até feriado!)

26 de julho - Dia da Assombração

2 de agosto - Dia da Cueca

19 de agosto - Dia da Motocicleta (também no país da Honda, da Yamaha e da Kawasaki, queria o quê?)

2 de setembro - Dia do Takarakuji (É a loteria japonesa. Como se fosse o Dia da Megasena)

16 de outubro - Dia do Chefe (Afinal de contas, ele merece, né!)

1 de novembro - Dia do Cão (atenção, não é Dia dE cão)

26 de novembro - Dia da Caneta

3 de dezembro - Dia da Esposa (Mas só da esposa boazinha!)

30 de dezembro - Dia do Metrô

Foto: Tom Cruise na pré-estréia de Guerra dos Mundos, em Tokyo. Fui eu que tirei!!!!

Tuesday, October 10, 2006

Cesta Básica

By Raquel
Aqui no Japão, a gente quase não passa vontade de comer comida brasileira. Tem de tudo! Por exemplo: coxinha, empadinha e até queijo Minas, eu peço por telefone e entregam na porta. Deu vontade de comer churrasco? É só dar um pulinho no Barbacoa, a churrascaria mais tradicional de Tokyo.

Nas cidades com grande concentração de brasileiros há várias lojas de produtos da terrinha que garatem o feijão de cada dia. Só que aqui em Tokyo não tem tantos brasileiros e, portanto, não tem loja brazuca em cada esquina.

Por isso, imaginem a minha alegria quando me disseram que no supermercado do lado do meu trabalho tinha feijão carioquinha! Hoje fui lá na hora do almoço e descobri que tem também feijoada em lata, pimenta malagueta, sopa instantânea Arisco, molho de tomate Elefante e...palmito!

Voltei pra casa de sacola cheia.

Foto: Minhas compras. Cliquem na foto para ampliar e reparem que o feijão e o palmito têm rótulo em japonês. Está escrito "fuedjon kariokiinia" e "puremiamu paumitto".

Saturday, October 07, 2006

Meu autógrafo

By Raquel
Se existisse japonês analfabeto, e eu acho que não existe, ele não precisaria sujar o dedo para "assinar" o nome, como acontece no Brasil.

Japonês não assina mesmo. Aqui, todo mundo tem um carimbo com o nome. Em japonês fala-se inkan ou hanko.

Na hora de abrir conta no banco, fazer contrato de aluguel, comprar casa, ninguém assina, carimba. Sei lá por que é assim, mas quando cheguei aqui também tive de fazer o meu carimbo.

Mas imagino que o inkan não seja obrigatório para os estrangeiros porque só uso esse carimbo na minha empresa, de resto, todo mundo me deixa assinar.

No início achei esse negócio de carimbo muito arriscado. Não seria muito mais fácil de falsificar do que assinatura? Qualquer um pode ir lá no carimbeiro e mandar colocar o nome que quiser! Sem contar que esses carimbos estão à venda nas lojas de ¥ 100 (o 1,99 japonês). Mas lá só tem os nomes mais comuns como Tanaka, Suzuki etc.

Alguém me explicou que não é bem assim porque para um carimbo valer tem de ser registrado na prefeitura. É como se fosse a nossa firma reconhecida.

E como o japonês faz quando vai para o exterior? Afinal, fora do Japão, o inkan não vale nada. Fui perguntar pro meu colega Kuni, um japonês bem viajado. Tivemos um papo rápido no messenger.

Raquel: kuni, voce tem assinatura? Rubrica?

Kuni O: nao

Raquel: e como voce fazia no Brasil? So escrevia o nome normal, ne?

Kuni O: sim

Kuni O: em japones

Kuni O: como assino no cartao de credito

Raquel: em kanji?

Kuni O: sim

Raquel: no Brasil???

Kuni O: sim

Kuni O: em qualquer parte do mundo

Raquel: seerio?

Kuni O: eh bom q ninguem imita

Raquel: e como eles reagim no Brasil quando viam os seus desenhinhos?

Kuni O: bom, aquela reacao comum

Kuni O: "eh japones????" o que é essa letra? aquelas perguntas todas

Raquel: que engracado! Todo japones assina em kanji quando esta no exterior?

Kuni O: nao digo todos mas acho q sim pelo menos no caso de cartao de credito tem q ser igual ao que tah no cartao ne?

Kuni O: por isso

Raquel: Entendi. Mas em outros casos, por que nao assina em romaji (o alfabeto romano)?

Kuni O: pq nao tenho assinatura

Raquel: mas por que nao escrever Kunihiro Otsuka simplesmente?

Kuni O: as vezes escrevo sim. quando eh coisa simples, tipo ficha de hotel

Raquel: no brasil, alem de cartao de credito e ficha de hotel, o que mais voce tinha de assinar?

Kuni O: nao tinha muita coisa nao

Kuni O: nunca tive problema

Kuni O: pq vc tah fazendo essas perguntas?

Kuni O: pro blog?

Ainda bem que o Kuni não pergunta: "É pro Fantástico?"

Monday, October 02, 2006

Tudo ao contrário

By Raquel
Outro dia me dei conta de que um estrangeiro quando vem pro Japão não só deve se preparar para choques culturais diários como também precisa programar o cérebro pra funcionar ao contrário. Como diria a minha mãe, aqui no Japão é tudo "as vessa", traduzindo, "do avesso".

Vejamos:

- O volante do carro fica do lado direito e a mão de direção também é oposta. Ok, ingleses e alguns outros povos não estranham, mas brasileiro tem de se acostumar.

- Os japoneses colocam açúcar em comida que deveria ter sal (como o sushi e molhos que regam peixes, frango e hambúrguer). Já os doces japoneses nem mereciam ser chamados de doce.

- Aqui, as portas da casa abrem pra fora. Pelo menos no Brasil a gente abre a porta pra dentro.

- Os japoneses falam de trás pra frente que nem o mestre Yoda da série Guerra nas Estrelas. Por exemplo: Vou ao restaurante comer sushi. Eles falam: Resutoran ni sushi o tabe ni ikimasu (Restaurante ao sushi comer vou).

- Quando vão contar nos dedos, os japoneses começam com a mão aberta e vão fechando do polegar para o mindinho. A gente começa com a mão fechada, abre o indicador, o médio, o anular, o mindinho e, por último, o polegar.

- Eles escrevem e lêem da direita para a esquerda. E também folheam livros e revistas de trás pra frente. O início deles é o nosso final - e o final é no início. Deu pra entender, né?

- Os japoneses tomam banho no chuveirinho antes de entrar na banheira. Mas isso tem uma explicação. Aqui, a banheira (ofurô) não é pra tomar banho e sim pra relaxar. Por isso tem de tirar a sujeira do corpo antes de entrar, para não sujar a água e outra pessoa poder usar.

É tudo hantai (ao contrário)!

Foto: Eu num Toyota conversível brincando de dirigir do lado direito.

Friday, September 29, 2006

Katakanês

By Raquel
Qualquer pessoa que começa a estudar japonês aprende na lição 1 que a língua japonesa tem três alfabetos: kanji (os ideogramas), hiragana (em forma de sílabas tipo ka, ke, ki, ko, ku) e katakana (também silábico, só que é usado para escrever palavras estrangeiras que foram incorporadas à língua).

Dos três o mais difícil é o kanji, o mais amigável é o hiragana e o mais engraçado é o katakana. É esse alfabeto que me faz dar muita risada desde o dia em que comecei a aprender pérolas como
エレベ-タ (lê-se erebeeta, do inglês elevator/elevador), エスカレ−タ (esukareeta, do inglês escalator/escada rolante), パイナプル (painapuru, do inglês pineapple/abacaxi) e チョコレト (tchocoreto, do universal chocolate).

Um dos meus passatempos preferidos no trem é ficar tentando decifrar o "katakanês" das propagandas. Duro é quando você vai na locadora, não acha o filme que quer na prateleira e precisa ir perguntar pro atendente se tem o DVD.

Não adianta falar o título em inglês que eles não entendem. Se for pedir Lord of the Rings, tem de falar Roodu Obu Za Ringu. Se quiser The Others, pergunte por Za Ozazu; Four Brothers é Foa Burozazu. Se quiser um filme com o Tom Cruise, o funcionário não vai ter a mínima idéia de quem se trata a menos que você diga Tomu Curuuzu. Brad Pitt vira Burado Pitto e Matt Demon é Matto Deimon.

E eu sou a Rakeru Marusaru (ラケル マルサル), djanarisuto. Muito prazer!

Saturday, September 23, 2006

Tem um coelho no meu sushi!

By Raquel

Se algum brasileiro fosse fazer uma lista de micos, não tenho dúvidas de que "levar marmita para o trabalho" seria item obrigatório. No Japão é diferente. Ninguém tem vergonha do marmitão, mesmo porque comer em restaurante em Tokyo faz um estrago no orçamento. Aqui, marmita se chama bentoo (lê-se bentô) e, como é praxe na gastronomia japonesa, ela tem de ser bonita.


Mas tem gente que se empolga na boniteza do bentoo, como duas donas de casa japonesas que são verdadeiras artistas da marmita. Cansadas de não ouvir comentário dos maridos sobre a comida, a dona Kasumin e a dona Mari Miyazawa, inventaram de decorar a marmita deles com bichinhos, flores e personagens feitos de nabo, cenoura, algas, camarão e tudo o mais que seja gostoso, nutritivo, colorido e "esculpível".



Imagina a cara do marido delas ao abrir pela primeira vez a marmita cheia de florzinhas e outras coisinhas mimosas na frente dos colegas de trabalho! A primeira reação foi de vergonha, mas depois os colegas ficaram ansiosos pra saber qual seria o tema do dia seguinte. Os maridões se acostumaram. Pelo menos foi isso o que elas contaram em uma entrevista ao o meu colega Julio Caruso.

Kasumin e Mari agora estão famosas. Têm blog, dão cursos, lançaram livros, dão entrevistas e estão sendo copiadas pela indústria da comida artística. Um fabricante de salsichas, por exemplo, mantém um site para ensinar os consumidores a fazer bichinhos com o produto. Eu estou pensando em fazer uma aulas com elas.

Monday, September 18, 2006

O Último Samurai

By Raquel
Para uma estrangeira vestir-se de gueixa no Japão até que é fácil. Aqui em Tokyo, em Kyoto e outras cidades há ateliês que existem pra isso mesmo. Difícil mesmo é alguém conseguir vestir-se de samurai, ainda mais com armadura e capacete feitos sob medida.






Pois foi justamente o que o Emerson conseguiu. No verão de 2004, fomos convidados pelo tio dele para ir assistir a um Jidai Matsuri (Festival de Época) na cidade em que ele mora. A gente achou que ia só assistir, mas eis que o tio tinha feito uma roupa de samurai para o sobrinho dele desfilar a caráter pelas ruas da cidade.

Tinha gente vestido com as mais diversas roupas de época, uma mais bonita e interessante do que a outra. E havia samurai de tudo quanto é tipo também: de chifre, de bigode de gato e até mulher fingindo ser espada. O meu samurai, claro, era o mais bonito. Deixou o Tom Cruise no chinelo!

Dando uma espadada no americano! (Almirante Perry)

Thursday, September 07, 2006

Memórias de uma gueixa

By Raquel

Quem foi que disse que hoje em dia não tem mais gueixa andando pelas ruas do Japão? Tem sim, inclusive gueixa fajuta! Estas fotos aí são uma recordação do dia em que me vesti de geisha-san e tive uma aula-relâmpago de como andar, sorrir e até abrir uma porta com a graciosidade que os kyaku-san (clientes) merecem. Foi na cidade de Ito, um balneário na província de Shizuoka, a menos de uma hora de Tokyo (de trem-bala).

Fiquei parecendo uma assombração de filme de terror japonês, mas os meus amigos (é para isso que servem os amigos...) foram unânimes ao ver as fotos: “Que liiiiinda!” Bem, podia até ficar linda desde que sorrisse de boca fechada. É que a maquiagem branquíssima cria um contraste tremendo com os dentes e deixa o sorriso literalmente amarelo. Deve ser por isso que as gueixas sempre colocam a mão na frente da boca quando riem. O branco do olho também amarela, mas quem vai notar isso naqueles olhos pequenininhos?

Fui a Ito a trabalho, junto com outros três jornalistas estrangeiros (duas americanas e um holandês). Era novembro do ano passado, o filme Memórias de uma Gueixa estava para estrear no Japão, e as prefeituras de Ito e da vizinha Atami se uniram para promover as gueixas da região – que segundo eles são em maior número do que em Kyoto. Chamaram, então, a imprensa estrangeira. E chamaram a NHK, a maior rede de TV do Japão ...


Sim, enquanto eu e uma das americanas éramos transformadas em gueixa apareceu uma equipe da tevê pública japonesa para fazer a cobertura da nossa cobertura. Eles colaram na gente durante dois dias – às vezes era constrangedor – e virei personagem principal de uma reportagem que foi ao ar no país inteiro. De vez enquando ainda sou reconhecida, acreditam? Já aconteceu de eu ser apresentada a um japonês e ouvir: “Eu já te vi na televisão vestida de geisha-san!”

Mais legal do que vestir de gueixa e ficar famosa foi poder conversar com gueixas de verdade, ser entretida por elas em um banquete e assisti-las dançar em uma apresentação pública. Na minha cabeça, essas profissionais eram sempre muito jovens e belas. Pode até ser assim lá na glamourosa Kyoto. Em Ito e Atami elas já são maduras, e não exatamente bonitas. A caçula das sete com quem conversei, Hotaru, tem 36 anos, mas para os clientes mente que tem 28. A mais velha, Matsuchiyo, negou-se a dizer a idade -- “Gueixa não tem idade”, desconversou -- mas aparentava uns 60. Quando perguntei se gueixa se aposenta ela respondeu: “Só se quiser, conheço uma de 96 anos.”

Perguntei se alguma delas tinha lido o livro Memórias de uma Gueixa (nenhuma leu) e o que achavam de o filme ser estrelado por uma atriz chinesa. A gueixa Makifuku respondeu por todas: elas não estavam nem aí. “É um filme de Hollywood. Se você perguntar para um americano qual é o mais famoso ator japonês eles vão dizer que é o Jack Chan”, debochou.

Deu vontade de ficar horas conversando, porque elas têm um ótimo papo. Aliás este talento é um pré-requisito para entrar na profissão. Outro é a disciplina. Apesar de terem ficado muito mal faladas, as gueixas são artistas. Precisam ser virtuoses em instrumentos tradicionais japoneses (como shamisen e koto), dançar com perfeição e ainda saber dar um chega pra lá em clientes abusados sem descer do guetá.


Saí de lá me perguntando se a única alternativa de sobrevivência para essa instituição japonesa será virar atração turística. Como vão competir com tantas outras alternativas de diversão mais baratas e atrativas? Imagino que a maioria dos jovens japoneses nunca nem viu uma gueixa de perto. E pior que já tem gente vendo uma serventia nada tradicional para as gueixas. Que o diga a gueixa Makifuku. Certa noite, ela foi contratada por um jovem casal, que deixou os dois filhos pequenos com ela e saíram para curtir a noite. “Tivemos um pequeno banquete e servi suco de laranja a eles”, lembrou ela, rindo de seu dia de babá.