Friday, September 29, 2006

Katakanês

By Raquel
Qualquer pessoa que começa a estudar japonês aprende na lição 1 que a língua japonesa tem três alfabetos: kanji (os ideogramas), hiragana (em forma de sílabas tipo ka, ke, ki, ko, ku) e katakana (também silábico, só que é usado para escrever palavras estrangeiras que foram incorporadas à língua).

Dos três o mais difícil é o kanji, o mais amigável é o hiragana e o mais engraçado é o katakana. É esse alfabeto que me faz dar muita risada desde o dia em que comecei a aprender pérolas como
エレベ-タ (lê-se erebeeta, do inglês elevator/elevador), エスカレ−タ (esukareeta, do inglês escalator/escada rolante), パイナプル (painapuru, do inglês pineapple/abacaxi) e チョコレト (tchocoreto, do universal chocolate).

Um dos meus passatempos preferidos no trem é ficar tentando decifrar o "katakanês" das propagandas. Duro é quando você vai na locadora, não acha o filme que quer na prateleira e precisa ir perguntar pro atendente se tem o DVD.

Não adianta falar o título em inglês que eles não entendem. Se for pedir Lord of the Rings, tem de falar Roodu Obu Za Ringu. Se quiser The Others, pergunte por Za Ozazu; Four Brothers é Foa Burozazu. Se quiser um filme com o Tom Cruise, o funcionário não vai ter a mínima idéia de quem se trata a menos que você diga Tomu Curuuzu. Brad Pitt vira Burado Pitto e Matt Demon é Matto Deimon.

E eu sou a Rakeru Marusaru (ラケル マルサル), djanarisuto. Muito prazer!

Saturday, September 23, 2006

Tem um coelho no meu sushi!

By Raquel

Se algum brasileiro fosse fazer uma lista de micos, não tenho dúvidas de que "levar marmita para o trabalho" seria item obrigatório. No Japão é diferente. Ninguém tem vergonha do marmitão, mesmo porque comer em restaurante em Tokyo faz um estrago no orçamento. Aqui, marmita se chama bentoo (lê-se bentô) e, como é praxe na gastronomia japonesa, ela tem de ser bonita.


Mas tem gente que se empolga na boniteza do bentoo, como duas donas de casa japonesas que são verdadeiras artistas da marmita. Cansadas de não ouvir comentário dos maridos sobre a comida, a dona Kasumin e a dona Mari Miyazawa, inventaram de decorar a marmita deles com bichinhos, flores e personagens feitos de nabo, cenoura, algas, camarão e tudo o mais que seja gostoso, nutritivo, colorido e "esculpível".



Imagina a cara do marido delas ao abrir pela primeira vez a marmita cheia de florzinhas e outras coisinhas mimosas na frente dos colegas de trabalho! A primeira reação foi de vergonha, mas depois os colegas ficaram ansiosos pra saber qual seria o tema do dia seguinte. Os maridões se acostumaram. Pelo menos foi isso o que elas contaram em uma entrevista ao o meu colega Julio Caruso.

Kasumin e Mari agora estão famosas. Têm blog, dão cursos, lançaram livros, dão entrevistas e estão sendo copiadas pela indústria da comida artística. Um fabricante de salsichas, por exemplo, mantém um site para ensinar os consumidores a fazer bichinhos com o produto. Eu estou pensando em fazer uma aulas com elas.

Monday, September 18, 2006

O Último Samurai

By Raquel
Para uma estrangeira vestir-se de gueixa no Japão até que é fácil. Aqui em Tokyo, em Kyoto e outras cidades há ateliês que existem pra isso mesmo. Difícil mesmo é alguém conseguir vestir-se de samurai, ainda mais com armadura e capacete feitos sob medida.






Pois foi justamente o que o Emerson conseguiu. No verão de 2004, fomos convidados pelo tio dele para ir assistir a um Jidai Matsuri (Festival de Época) na cidade em que ele mora. A gente achou que ia só assistir, mas eis que o tio tinha feito uma roupa de samurai para o sobrinho dele desfilar a caráter pelas ruas da cidade.

Tinha gente vestido com as mais diversas roupas de época, uma mais bonita e interessante do que a outra. E havia samurai de tudo quanto é tipo também: de chifre, de bigode de gato e até mulher fingindo ser espada. O meu samurai, claro, era o mais bonito. Deixou o Tom Cruise no chinelo!

Dando uma espadada no americano! (Almirante Perry)

Thursday, September 07, 2006

Memórias de uma gueixa

By Raquel

Quem foi que disse que hoje em dia não tem mais gueixa andando pelas ruas do Japão? Tem sim, inclusive gueixa fajuta! Estas fotos aí são uma recordação do dia em que me vesti de geisha-san e tive uma aula-relâmpago de como andar, sorrir e até abrir uma porta com a graciosidade que os kyaku-san (clientes) merecem. Foi na cidade de Ito, um balneário na província de Shizuoka, a menos de uma hora de Tokyo (de trem-bala).

Fiquei parecendo uma assombração de filme de terror japonês, mas os meus amigos (é para isso que servem os amigos...) foram unânimes ao ver as fotos: “Que liiiiinda!” Bem, podia até ficar linda desde que sorrisse de boca fechada. É que a maquiagem branquíssima cria um contraste tremendo com os dentes e deixa o sorriso literalmente amarelo. Deve ser por isso que as gueixas sempre colocam a mão na frente da boca quando riem. O branco do olho também amarela, mas quem vai notar isso naqueles olhos pequenininhos?

Fui a Ito a trabalho, junto com outros três jornalistas estrangeiros (duas americanas e um holandês). Era novembro do ano passado, o filme Memórias de uma Gueixa estava para estrear no Japão, e as prefeituras de Ito e da vizinha Atami se uniram para promover as gueixas da região – que segundo eles são em maior número do que em Kyoto. Chamaram, então, a imprensa estrangeira. E chamaram a NHK, a maior rede de TV do Japão ...


Sim, enquanto eu e uma das americanas éramos transformadas em gueixa apareceu uma equipe da tevê pública japonesa para fazer a cobertura da nossa cobertura. Eles colaram na gente durante dois dias – às vezes era constrangedor – e virei personagem principal de uma reportagem que foi ao ar no país inteiro. De vez enquando ainda sou reconhecida, acreditam? Já aconteceu de eu ser apresentada a um japonês e ouvir: “Eu já te vi na televisão vestida de geisha-san!”

Mais legal do que vestir de gueixa e ficar famosa foi poder conversar com gueixas de verdade, ser entretida por elas em um banquete e assisti-las dançar em uma apresentação pública. Na minha cabeça, essas profissionais eram sempre muito jovens e belas. Pode até ser assim lá na glamourosa Kyoto. Em Ito e Atami elas já são maduras, e não exatamente bonitas. A caçula das sete com quem conversei, Hotaru, tem 36 anos, mas para os clientes mente que tem 28. A mais velha, Matsuchiyo, negou-se a dizer a idade -- “Gueixa não tem idade”, desconversou -- mas aparentava uns 60. Quando perguntei se gueixa se aposenta ela respondeu: “Só se quiser, conheço uma de 96 anos.”

Perguntei se alguma delas tinha lido o livro Memórias de uma Gueixa (nenhuma leu) e o que achavam de o filme ser estrelado por uma atriz chinesa. A gueixa Makifuku respondeu por todas: elas não estavam nem aí. “É um filme de Hollywood. Se você perguntar para um americano qual é o mais famoso ator japonês eles vão dizer que é o Jack Chan”, debochou.

Deu vontade de ficar horas conversando, porque elas têm um ótimo papo. Aliás este talento é um pré-requisito para entrar na profissão. Outro é a disciplina. Apesar de terem ficado muito mal faladas, as gueixas são artistas. Precisam ser virtuoses em instrumentos tradicionais japoneses (como shamisen e koto), dançar com perfeição e ainda saber dar um chega pra lá em clientes abusados sem descer do guetá.


Saí de lá me perguntando se a única alternativa de sobrevivência para essa instituição japonesa será virar atração turística. Como vão competir com tantas outras alternativas de diversão mais baratas e atrativas? Imagino que a maioria dos jovens japoneses nunca nem viu uma gueixa de perto. E pior que já tem gente vendo uma serventia nada tradicional para as gueixas. Que o diga a gueixa Makifuku. Certa noite, ela foi contratada por um jovem casal, que deixou os dois filhos pequenos com ela e saíram para curtir a noite. “Tivemos um pequeno banquete e servi suco de laranja a eles”, lembrou ela, rindo de seu dia de babá.

Wednesday, September 06, 2006

Férias

A partir de hoje vou tirar férias do blog.

Enquanto isso, a senhora Wan vai ser blogueira interina. No seu primeiro post, a Raquel contará sua experiência de ter sido gueixa por um dia e ter virado personagem de uma matéria da NHK, a maior rede de TV japonesa.

Outra novidade: a partir de hoje, o Projeto Andromeda deixa de ser projeto e ganha um nome:

Tokyo Passion

um nome que reflete exatamente o sentimento que tenho pela cidade mais desvairada do mundo!!!

Friday, September 01, 2006

Bíblia em mangá

Já escrevi um post da Bíblia Falante, um iPod Cristão que tem toda a bíblia narrada. Basta apertar o botão e ouvir.

Agora encontrei a "Bíblia em Mangá" (MANGA BIBLE STORY, まんが聖書物語) na livraria. Vamos conferir.

Tirei algumas fotos de duas histórias bem conhecidas de todos: a da Arca de Noé e a da parábola da multiplicação dos peixes.

Clique nas fotos para ampliar.

A foto abaixo mostra a arte japonesa aplicada à religião. Há inúmeras narrações ilustradas da bíblia, inclusive em português, mas não conheço uma que traz o dinamismo que o traço dos desenhistas japoneses produzem.

A página abaixo mostra uma imagem mais conhecida do estilo mangá. Pequenos quadrinhos com balõezinhos para as falas e letras grandes para as onomatopéias. No quadrinho central, a Arca tromba numa rocha gigante produzindo um grande DÔOOOOOM. Aí um dos fulanos com a fitinha na cabeça diz: "Vejam. A luz do sol!!!" É nesse instante que Noé solta a pomba para ver se há terra nas proximidades.


Agora, o profeta.

No quadrinho abaixo, o grande profeta fala para Simão e André: "Chega mais que vou ensinar vocês a pescar." Eles não estavam botando fé até que ...


... os peixes começaram a borbulhar. Olha o peixe aí, gente!!!


Viram bem o visual do profetinha? A barba dele está muito bem aparada!

Pra quem quiser expandir o conhecimento, também tem o mangá do Velho Testamento. Este aqui tem o Adão, a Eva e a cobrinha na capa.

Dá uma olhada na cobra safada: "Comam a maçã que tá tudo tranqüilo." (Observem a lingüinha, é do tamanho da malícia.)
Depois que eles dão a mordida, Adão se arrepende e fala: "Ibu!" e Eva: "Adamu!"
(Ibu = Eva; Adamu = Adão.)

Olha a cara de arrependimento do "Adamu" e da "Ibu". O desenhista do mangá tem a habilidade de transmitir emoção sem palavras. É como se dissessem:
- Eva, o que fizemos?
- Adão, fomos induzidos por essa cobra em forma de berinjela.

Publicações assim no Brasil mudariam radicalmente o conceito de aprender os ensinamentos do livro sagrado. Muita gente o leria até espontaneamente! Eles diriam: "Ah, vou ler um gibi." Quem sabe entrasse na lista dos 10 livros mais lidos da Veja, apenas atrás do Dilbert. Algo me diz que esses mangás teriam um público maior em outro país.

Preços: Todos disponíveis no Amazon japonês.
MANGA BIBLE STORY (Novo e Velho Testamento) まんが聖書物語, 872 pág. 2500 ienes (45 reais)
Velho Testamento em Mangá マンガで楽しむ旧約聖書, 229 pág. 1365 ienes (24 reais)
Novo Testamento em Mangá マンガで楽しむ新約聖書, 231 pág. 1365 ienes (24 reais)


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