Você vai apresentar de yukata?
Neste sábado fui ao "gasshuku" do laboratório. A tradução de dicionário é "treinamento de campo," mas em bom português é um retiro. O gasshuku do nosso lab é feito todo início de ano num hotel estilo japonês. Fica num lugar muito bonito e tranqüilo nas montanhas, em Kosuge-mura, na Prefeitura de Yamanashi, a 2 horas de carro de Tokyo.
O que acontece no gasshuku
O nosso gasshuku tem uma pernoite e dura 1 dia e meio. Os que já estão no grupo vão para apresentar trabalho e os alunos novos que acabaram de entrar no lab vão só para se integrar à equipe. Eu tive de apresentar minha proposta de trabalho e idéias para este ano que vai vir. Na universidade, praticamente o ano começou agora, pois no Japão o ano acadêmico começou ao redor de 10 de abril.
As apresentações
As apresentações acontecem no auditório de tatami. Como sobre o tatami não se usa cadeira, os alunos sentam no chão. Antes da apresentação, depois de ter entrado no ofuro do hotel, os alunos novos do laboratório perguntaram pra mim: "Pode assistir à apresentação de yukata?" Yukata é um pijama japonês e como todo pijama é um traje mais que informal. Como mente superior domina mente inferior, foi vestido de yukata que apresentei meu trabalho.
Função do gasshuku
Indo a esses gasshukus dá pra entender bem como funciona o trabalho de grupo dos japoneses. Antes de saber quais são as qualidades acadêmicas dos novos alunos, conseguimos sentir um pouco a personalidade, quem fala mais, quem é mais ativo, quem tem humor. Também para quem já está no grupo, dá pra saber quem está adiantado ou atrasado no trabalho, e as dificuldades. O gasshuku revela as "cores" dos alunos e a "cor" do novo grupo que está se formando.
O que fazemos além das apresentações?
Desta vez fizemos uma caminhada pelo rio ao lado do hotel e andamos por uma trilha nas montanhas. Ao retornar, fomos fazer soba. Soba é um macarrão japonês, mas fomos fazer o macarrão a partir da farinha. Não é comum fazer isso no Japão assim como no Brasil quase ninguém prepara o espaguete a partir da farinha de trigo. A gente prepara a massa, amassa bastante e depois corta com faca.
Depois vieram as apresentações e depois o jantar, cujo prato principal foi o soba que preparamos. No fim do dia, fizemos o nomikai. Nomikai é uma festinha para beber. Antes, achava que o nomikai era só coisa de empresa e trabalhadores. Mas acontece também no mundo universitário. Hoje me acostumei, mas a minha primeira impressão do nomikai foi a de uma introdução ao mundo dos adultos por meio da bebida supervisionado pelo professor da universidade. Loucura. Até hoje não ouvi em nomikai alguém falar: "Vai com calma. Você pode passar mal." Aqui, não fazemos nomikai para bebericar. No nomikai é para atingir os limites do homem.
A festa acabou cedo (meia-noite) mas às 7 horas do dia seguinte já estava de pé e novamente fui ao ofuro. Na parte da manhã, fomos jogar vôlei e, neste ano, joguei um esporte novo: o kick-base, que é um baseball sem tacos jogado com os pés. Valeu, pois finalmente entendi as regras do baseball jogando futebol. Antes de retornarmos para casa, fomos a um onsen fantástico, com onsen ao ar livre. Como é início de primavera já dá pra ficar do lado de fora nu esperando o corpo esfriar bem devagar.
Fui lá para apresentar trabalho mas, no final, o que começou com dois grupos de pessoas estranhas, estavam todos integrados para iniciar o ano no laboratório.
2 Comments:
emerson... me responde uma coisa... nomikai... essa festinha é por acaso pra galera beber até nao aguentar mais? como vc diz... um teste de resistencia... até vc cair?
acho que foi isso que entendi...
ei...seu blog ta legal... vou vir aki mais vezes! abração
Oi, Pacheco!
No nomikai a gente bebe à vontade e se cair caiu. Não tem limites. Mas não é uma competição. O nomikai pode acontecer todo dia. Já vi em plena segunda-feira os engravatados bebados e com bafo de sake de perna cruzada na estação de trem.
E nao é coisa de jovem. Por exemplo, na facu, todo inicio de ano tem a festa de recepcao dos calouros no nosso departamento. É uma festa que reúne umas 150 pessoas. No meio da festa os professores são convidados a discursar. Os caras vão de terno e gravata falar no microfone sobre um engradado de cerveja. Um dia teve um professor que recitou um poema pra la de bebado. O cara tinha mais de 60 anos. O legal é que no dia seguinte não precisa ter vergonha se deu vexame porque ninguém fica tirando sarro da gente.
No nomikai, vez ou outra, entre os alunos universitarios, tem muito de virar uma garrafa de cerveja na frente de todo mundo para mostrar que vai enfrentar o futuro com muita coragem e determinação etc. E na frente dos professores.
O mundo japonês é bizarro. Pode crer.
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