Saturday, February 10, 2007

Tou vivo da Silva

Como podem ver voltei vivo mas demorou 4 horas para passar o veneno. O veneno dá pra sentir como um formigamento na ponta da língua. É demais! Tem de pedir pro chef pra aumentar a dose. Sem contar que a ansiedade de marinheiro de primeira viagem aumenta mais a emoção. Só de pensar que o cozinheiro poderia ter se esquecido de tirar o veneninho é fantástico. Infelizmente, o veneno não conseguiu se manifestar diante da imponência do meu fiel exército de glóbulos brancos. Mas passei no teste. Muito bom.

Mudando de assunto, estou vivendo dias intensos. Terminei a tese e o mestrado está chegando ao fim, assim como minha missão no Japão.
Semana que vem, viajarei a um lugar bem parecido com o paraíso e só volto na outra semana. Alguém poderia vigiar o blog nestes dias? Vou deixar algumas luzes acesas para acharem que tem gente. Abraços.

Friday, February 09, 2007

Hoje vou comer fugu

Gaijin que é gaijin tem de comer fugu, já dizia meu avô que era dono de restaurantes. O fugu é um tipo de peixe temido por ser venenoso. Mesmo assim, por tentativa e erro, vieram a descobriram como tirar o veneno e o peixe virou um prato japonês exótico.

Hoje às 7:30 da noite vou me encontrar com uns amigos japoneses que me indicarão um restaurante de fugu. Diz a sabedoria popular que há restaurantes caros e baratos de fugu. Nos mais baratos você corre o risco de morrer. Os mais caros chegam a cobrar o prato a 12000 ienes (200 reais). Ou seja, você tem duas escolhas: ou morre ou fica pobre. Para ficar mais emocionante, não perguntei se o restaurante onde irei é caro ou barato.

Nas minhas andanças, encontrei um livro de aprender japonês com um título sugestivo: "13 secrets for speaking fluent japanese." Numa aula sobre condicionais (se... então...), há uma história em quadrinhos sobre um gaijin americano que se me meteu a ir num restaurante de fugu. O título do livro é segredos para falar japonês fluentemente, mas não diz se vivo ou morto! Vou narrar a história abaixo e deixar os quadrinhos originais no fim. Boa leitura e boa sorte para mim. Até o próximo post "se" eu estiver aqui.

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Se...
As aventuras de um gaijin em Tokyo

(Naoko, japonesa, pensando): Se ele ainda estivesse comigo, como eu seria feliz... Se eu não tivesse trabalhado até tarde no escritório naquele dia, então ele não teria ido sair para passear... Se ele não tivesse ido passear, então ele não teria encontrado aquele homem... Se ele não tivesse encontrado aquele homem, ele não teria ido àquele restaurante... E se ele não tivesse ido ao restaurante, então... (Mostra Naoko ajoelhada em frente a uma cova no cemitério).

Naoko suspira e pela milésima vez retraça a série de eventos que trouxeram Jim a Tokyo. (Mostra o americano Jim na sala de aula numa universidade americana) O professor fala: Se você não estudar no Japão, você nunca aprenderá o japonês de verdade. No fim da aula, Jim conversa com o professor. (Jim): Se eu for para o Japão, onde seria interessante viver? (Professor): Se você for para uma cidade grande, haverá um monte de salaryman e office ladies. Se você for a Kyoto, verá um monte de templos. (Jim imagina as duas situações com os olhos de sua mente) Mas Jim tinha uma visão de mundo extremamente profunda. Jim finalmente se decide: Se é velho, é chato.

Então uma semana depois, Jim vem a Tokyo e aluga um pequeno apartamento barato. Jim resmunga: se o apartamento não fosse tão minúsculo... Se apenas não houvesse baratas... (duas baratas na cozinha fazendo kassa kassa, o som das baratas). Fora da frigideira para o fogo, Jim pega um trem cheio. Se o trem não fosse tão lotado, eu até poderia gostar daqui. (Volta Naoko narrando): Foi nesse momento único que nós nos encontramos. Foi amor à primeira vista... (Dentro do trem, Jim propõe a Naoko!) Se você estiver livre, não quer dar uma volta comigo no parque? (Jim e Naoko no banquinho do parque) E o nosso amor floresceu entre as folhas vermelhas de outono. (Num futuro indefinido) Jim se declara: Se você não tiver namorado, seja a minha! Nós estávamos tão apaixonados, era tanto amor. (Mostra muitas memórias dos dois juntos fazem windowshopping, brincando com fogos de artifício etc)

(Naoko) Mas eu não podia parar de trabalhar. Normalmente eu trabalhava até tarde, e naquele dia eu iria para casa do Jim às 6:30 da tarde, mas eu não conseguia terminar o trabalho. Jim se cansou de esperar - ele sempre dizia que eu era explorada pela compania- então ele saiu para dar uma volta. Foi aí que apareceu um japonês de um carro: "Se ele for americano, eu posso treinar o meu inglês!". Então esse japonês que Jim nunca tinha visto o convida para sair. "Se você tiver tempo, não gostaria de ir comer e jogar uma conversa fora?" Jim retruca: Se for caro, não posso ir. "Não se preocupe, eu pago!" Então os dois entram num restaurante de... fugu.

(Jim) Se é barato, fugu é perigoso. (O homem estranho fala com muita certeza apontando para o menu) Mas se é caro, é seguro! (Os dois comem e se divertem) Quase no fim da festa, o homem estranho fala olhando para o prato de Jim: "Se você não comer tudo, é considerado falta de educação, você sabe..." Mas Jim já estava pra lá de Marrakesh. Estava muito estranho.

(Naoko) Eu voltei super tarde, lá pelas 11 da noite. Se ele estiver esperando desde das 6:30, deve estar uma arara comigo. Mas havia um bilhete na porta. "7:30pm. Fui jantar no Shishi Fugu. Volto tarde." Eu conhecia aquele lugar... Ele era famoso...

... famoso pelo fato dos cozinheiros não saberem como retirar o veneno do fugu corretamente, famoso por...

(Naoko) Se ele foi para o notório Restaurante Shishi, ele está em perigo! (*Nota minha: shi em japonês também significa morte, então shishi é morte em dobro!).

(De volta ao restaurante) Jim estava suando frio, tremendo e super mal.

Naoko corre até o restaurante. Mas é tarde demais. Jim suspira suas últimas palavras no colo de Naoko: "Eu devia ter ido pro McDonalds..."

(Já no hospital, Naoko ajoelhada no leito) Se você não tivesse comido fugu, eu não estaria tão sozinha agora! Se você não tivesse vindo para o Japão... Se você não tivesse vindo para o Japão... (as palavras retumbam na mente de Naoko) ... eu nunca teria te encontrado. A verdade é que Naoko ainda pronunciava essas palavras.

"Se você não der sedativos para ela, ela nunca se acalmará" - um médico fala ao outro no sanatório, ambos vendo Naoko pela janelinha do quarto. "Se você..." "Se você..." "Se você..." (Naoko sentada abraçando os joelhos no quarto escuro). FIM

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Thursday, February 08, 2007

Akihabóbora

Os dois lugares que mais freqüento devem ser Shibuya e Akihabara. Sobre Shibuya já houve um post sobre as bizarras banbazoku e dois vídeos (1, 2) dentro de um ônibus público japonês, para quem não mora no Japão.

Falar do bairro de Akihabara normalmente remete aos eletrônicos. Foi nas lojas de lá que o Walkman foi lançado. Neste post queria mostrar o que os vendedores são capazes de fazer para atrair a atenção dos transeuntes.

O vendedor é um figuraço. Ele tem um capacete de abóbora na cabeça e calça um cuecão cinza. Reparei que ele também tem uma faixa cinza de karate amarrada na cintura. (Deve ser do karate de Okinawa) Em cada perna na altura da coxa ele tem uma faixa de elástico presa. Para quê não sei. Como se não bastasse ele também usa de recursos sonoros. Na mão ele tem um microfone para soltar o verbo. O figurão usa uma barba postiça preta, talvez para não ser reconhecido pelo filho. É a própria versão japonesa da melancia no pescoço.